Quatro encontros e uma breve despedida da turista ocidental
Por Aldana Vladimirsky*
Índia. Uma sociedade que nos surpreende todos os dias. Em 2005, minha experiência de viajar ainda não era muita, e a inocência não conhecia o impossível. Cinco anos depois, voltei em busca de mais, para explorar o até então desconhecido, viver o idealizado e me surpreender com o que não imaginara. Dizem que não há dois sem três, e comigo a regra foi até quatro. Em outubro de 2018, visitei o país de novo. Nesse janeiro de 2019, mais uma vez.
Índia, em você tudo é possível. Terra mística, especiarias que conquistam sentidos, melodias de cítara que nos envolvem e nos levam por lugares remotos e culturas milenares. Incrível Índia que consegue despertar em nós amor e ódio ao mesmo tempo. Você é complexa. Intensa, extensa, caótica, relaxada, poluída e puramente bonita. Deserto, praia, muita natureza e cidades superlotadas… Há um pouco de tudo em você.
Uma mistura de sensações e sentimentos opostos, muitas perguntas sem respostas; um Yin-Yang permanente, que leva o viajante a atravessar um caminho maravilhoso na terra já defendida e reivindicada por Gandhi; reconhecida por Madre Teresa de Calcutá; lida, interpretada e transmitida por Osho. Chamam-lhe “incrível”, por ser um lugar onde tudo pode ocorrer: energias diversificadas, desejos encontrados, olhares penetrantes, rostos inesquecíveis. Índia: mais de 1.000.000.000 de habitantes, e uma área que a leva a ser o sétimo maior país do mundo. Quem retorna depois de uma primeira visita, percebe as mudanças: no meu caso, foram grandes surpresas a cada visita.
A Índia de 2005 é muito diferente da Índia de 2019. Progresso em várias áreas, sociedade antenada num mundo globalização e mudanças de tal magnitude que, em cidades como Nova Deli, Mumbai e Bangalore, os belos saris coloridos começaram a ser substituídos por jeans e camisetas que mal cobrem o ombro. E há mudanças na mentalidade e na aceitação da manifestação afetiva entre homem e mulher: hoje abraços e mãos dadas são vistos em qualquer metrô ou rua da capital. A Índia progride no ritmo mundial, mantendo costumes e rituais.
Índia querida, em breve me despeço de ti. Estou triste e já sinto saudades. Mas também me encho de alegria pelo que vivi, durante nossa jornada maravilhosa. Sinto muito em saber que não terei você todos os dias em cada chai, cada aprendizagem, cada olhar cúmplice, cada trem e seus infortúnios, cada cheiro e cores da sua incrível gastronomia, que facilita a vida de nós, vegetarianos, cada Namasté.
Entro no aeroporto, tudo é luxuoso, moderno, limpo, frio, chato na verdade. Centenas de imagens de suas ruas e pessoas; fotografias que vêm à minha cabeça. Um povo que ensina, outras vezes irrita, surpreende e consegue nos deixar maravilhados também. Índia eu choro porque te digo adeus. Dói.
Passo pela migração, converso com o agente que vai carimbar minha saída. Algumas perguntas para eu não esquecer do estilo indiano que tanta alegria me traz: primeira ou segunda visita? Idade? Casada? Tem filhos? De onde é? Gostou da Índia? Tudo com um movimento de cabeça para os lados e sorriso gigante no rosto.
Como explicar a ele tudo o que se passa na minha cabeça? Com tudo isto, fica ainda mais difícil dizer adeus ou até mais. Agradeço ao país por ter me recebido alegremente, me abraçado tão fortemente e me despeço com um sorridente Namasté. Incrível Índia, eu levo você dentro de mim.
Um shanty shanty (calma, calma) para a querida paciência, um namasté (saudação) ao astro rei Sol e um dhanyavad (obrigada) por estar viva aqui e agora.
*Aldana é autora do livro “Relatos de una viajera” e publica suas viagens no Aldana Vladi escribe (aldanavladiescribe.wordpress.com). Facebook: relatosdeunaviajera/notifications