Cinco passeios, entre os melhores na cidade que acaba de receber a chancela da Unesco
Só fico imaginando a notícia correndo solta por aquele calçamento histórico. De um vizinho pro outro, de uma lojinha pra outra e entre os que se preparam para fazer a Flip. Não é que a cidade de Paraty se tornou Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade às vésperas de sua festa maior? E, isso, como se não bastassem seus festivais de música, da cachaça, da fotografia, a Festa do Divino, a mata atlântica, o casario colonial – e a própria Flip, que este ano acontece entre quarta e domingo próximos.
Foram 12 anos de espera, até sexta-feira passada. A cidade se candidatou, pela primeira vez, em 2007. Mas, em 2009, a Unesco lhe negou o título. Na época, só o centro histórico constava da proposta. Foi preciso acrescentar a natureza de seu entorno e a da Ilha Grande para que a chancela viesse. Mesmo com os problemas de saneamento, que, quando chove, escorrem pelas ruas das pedras pé de moleque.
Mas quem sabe o título atraia investimentos que tornem a cidade mais cativante do que já é. E para comemorá-lo, o ViajemNow resolveu sugerir cinco passeios pela região que considera imperdíveis. A eles:
1)Passeios de barco
De saveiro, barco ou lancha, é preciso navegar por aquelas águas. Quem já foi a Paraty e só ficou em terra firme, não tem ideia do que pode experimentar. Olha só: são pequenas ilhas, praias desertas de águas claríssimas e flora e fauna marinha fácil de observar. Tudo em contraste com a Serra do Mar. As mais próximas e mais procuradas são as praias da Lula, Vermelha, Lagoa Azul, ilhas Comprida e do Algodão.
É fácil alugar quaisquer dessas embarcações. A questão é checar o que cabe no bolso. Passeios em grandes escunas (por cinco horas) estão sendo oferecidos por diferentes sites de agências locais a R$ 60. Já cinco horas em lanchas (de 22 pés, para sete pessoas) saem por uns R$ 1,4 mil. Nesse caso, assim como no de barcos comuns (para oito pessoas), que cobram metade do preço das lanchas, vale muito negociar.
2) Saco do Mamanguá
Entre montanhas, o Saco Mamanguá é um braço de mar de água cristalina com 8km de extensão por quase 2km de largura. Berçário marinho, tem área de mangue também. É estonteante. Sensação que não se esquece. Só se chega lá de embarcação ou de trilha.
No caso das lanchas, é coisa de meia horinha, de Paraty até lá. Se a opção for por barco comum, duas horas. Outra rota possível é sair da Praia de Paraty Mirim (veja abaixo). Os preços variam muito. De novo, vale pechinchar.
No caso das trilhas, também é preciso alcançar a Praia de Paraty Mirim e seguir por hora e meia caminhando. A região do Mamanguá tem 33 praias e oito comunidades caiçaras. O lado direito de quem entra é pouco habitado; é no esquerdo que estão as construções. Algum comércio de artesanato, alguns restaurantes, hotéis e pousadas completam o serviço.
3)Paraty Mirim
À vila de Paraty Mirim, chega-se de carro ou ônibus (ou pelo mar, é claro). Pela estrada, que corta uma comunidade indígena, são 15km do centro histórico até lá. Suas águas, também cristalinas, são mansas. Fique de olho pra ver siris fugindo dos seus pés. Junto às areias, há ruínas de antigos casarões e a igrejinha de Nossa Senhora da Conceição, fundada em 1757.
Mesmo em meses de férias escolares e feriados, o lazer no mar é garantido – mas nesses dias os serviços de alimentação e estacionamento deixam a desejar. No entanto, de resto, como da última vez que estive lá, Paraty Mirim é mais um paraíso do novo patrimônio da Humanidade.
Essa é uma das duas reservas de tribos guaranis em Paraty. Seu povo vive da agricultura e da venda de artesanato. Mulheres e crianças estão sempre no centro histórico, vendendo cestos, colares, peneiras, entre vários outros itens decorativos. Chamam a atenção de todos os visitantes por sua beleza, raridade, mas também pela sensação de que estão abandonados pelo poder público.
4) Praias de São Gonçalo e São Gonçalinho
Essas duas praias já ficam mais longe do centro histórico (uns 35km) e, apesar de estarem quase à beira da BR-101, guardam poder de atração praticamente igual. Mais águas claríssimas e calmíssimas, mata por todos os lados e, à frente, ilhas onde se chega, com facilidade, em pequenos barquinhos. Para quem vai do Rio, é uma ótima pedida, por exemplo, para o dia da volta.
Quiosques e restaurantes dão contam da clientela – mas, principalmente aí, por causa da facilidade de acesso, evite as altas temporadas. Na São Gonçalo, antes de se alcançar a areia, há um pequeno rio. Às vezes, é preciso atravessá-lo num pequeno bote – os meninos-barqueiros estão sempre lá.
A São Gonçalinho é superaconchegante. E tem o Bar Duzé, que serve peixes e frutos do mar a preços justos – a lula é incrível. O dono do restaurante, o Zé do Gonçalinho, é de uma das famílias de caiçaras, que, depois de uma batalha judicial com grileiros de terra, conseguiram manter suas propriedades. A praia é uma das minhas preferidas… repetindo: fora de dias concorridos.
5) Centro histórico
Tudo bem, essa dica seria muito óbvia, não fosse minha aparente obsessão pelo mar. E menos óbvia ainda porque não vou indicar qualquer endereço específico. O centro histórico de Paraty está lá pra gente se perder por seu calçamento de pedras e suas ruas curvas, que dão a impressão de que você acabou de passar por ali. Ruas iguais e diferentes a um só tempo.
Tombada desde 1958 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a cidade de traçado colonial, com suas casas de portas e janelas coloridas, é lúdica como ela só. De arquitetura simples, sem rebuscamentos e materiais nobres, com raras exceções.
Um walking tour é indispensável para quem quer conhecer melhor a história e várias curiosidades da cidade. Por exemplo? No passado, grande parte das janelas térreas foram portas, cujas molduras (até a soleira) estão mantidas como norma de preservação do projeto original. As ruas teriam sido feitas em curva, dizem alguns, como recurso de proteção contra os ventos; ou, dizem outros, contra piratas.
Podia continuar aqui por parágrafos e parágrafos citando as belezas de suas igrejas, a excelência de suas galerias de arte, a quantidade de lojinhas de artesanato, seus alambiques e cachaças famosas. Incluiria também, a alguns quilômetros do centro, seu Quilombo Campinho da Independência (de base comunitária) e cachoeiras e a paisagem da estrada de Cunha. Mas que tal ir até lá para descobrir tudo isso?