Conheça (e visite) a casa em que o casal viveu por 40 anos e hoje é um museu-memorial
“Acho que Jorge nunca escreveu ficção. Ele escreveu a realidade desse povo”, diz a atriz Sonia Braga em um dos vídeos que compõem o acervo de A Casa do Rio Vermelho/Jorge Amado e Zélia Gattai, um museu memorial que nos induz a imaginar a rotina e a aprender um pouco mais sobre a obra do casal.
Inaugurado há quatro anos e quatro meses, na casa em que Jorge e Zélia viveram por mais de 40 anos, o espaço mantém em grande parte suas características originais e conta com mais de dez horas de vídeos, em que intelectuais, artistas, amigos e familiares falam sobre os escritores e leem trechos de suas obras.
Estão lá: de camisas de Jorge a bonecas de pano feitas por Zélia. Da cama do casal à cozinha, que foi ampliada. Entre os destaques: ao lado do quarto do casal, uma super escrivaninha expõe cartas trocadas com diferentes personalidades.
O bairro é o boêmio Rio Vermelho, que ferve durante a noite. Mas a casa da Rua Alagoinhas fica no meio de uma ladeira residencial e bucólica, que convida à caminhada. Já no amplo jardim – tomado por árvores, boa sombra, com laguinho de peixes e viveiro de tartarugas -, os dois bancos de azulejo, em que o casal costumava sentar, marcam o espaço em que as cinzas dos dois foram jogadas.
Como, aliás, Jorge tinha dito que tinha de ser: “Aqui, neste recanto do jardim, quero repousar em paz quando chegar a hora. Eis meu testamento”.
Ainda lá fora, dois quiosques exibem depoimentos de amigos. Em um deles, o tema é o candomblé, com detalhes sobre a relação de Jorge com a religião. Mãe Stella de Oxóssi, que morreu no fim do ano passado, e Carlinhos Brown conduzem os vídeos. E eles tem muitas coisas para nos contar.
No total, a casa conta com 22 espaços. Um deles é a sala, unida em jantar e estar, onde estão o sofá, além da TV, da máquina de escrever e do toca discos que pertenciam ao casal. No quarto de hóspedes, são projetadas imagens de amigos e personalidades, entre os muitas que costumavam frequentar a rua Alagoinhas: de Dorival Caymmi a Yuri Gagarin, de Sophia Loren a Pablo Neruda. Na cozinha, o visitante pode enviar, via email, receitas de vatapá e sarapatel, entre alguns quitutes baianos.
Para muitos visitantes, o ambiente mais impactante é o quarto do casal. Pelo simbolismo de um espaço que era só deles, é claro. E também pelo projeto do artista visual e curador do museu, Gringo Cardia, que projeta em sequência diferentes imagens de personagens da obra de Jorge.
Mas eleger um espaço preferido naquele museu não é fácil. Até porque toda a inventividade e paixão de Jorge, Zélia e sua obra podem ser observados em cada canto. Fato é que não há como ir a Salvador e não conhecer o lugar.
Ao sair de lá, só nos resta dizer, a Jorge Amado, o que Yoko Ono escreveu no fim de uma das dezenas de cartas que estão à mostra na super escrivaninha. “Agradecendo a você. Com amor”.
COMO CHEGAR LÁ
A Casa do Rio Vermelho/Jorge Amado e Zélia Gattai fica na Rua Alagoinhas 33, Rio Vermelho. O bairro, por si só, é um dos pontos turísticos de Salvador, mas o museu fica numa ladeirinha escondida. Estando por lá, não deve levar mais de cinco minutos de carro. E se estiver procurando o lugar a pé ou de carro próprio, um aplicativo de localização vai ajudar. Aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, tem ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), com entrada gratuita às quartas.